quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Ida ao purgatório

Via-se gente. Muita gente. Uma velha vendendo pipoca, um mendigo pedindo dinheiro, duas moças com blusas decotadas falando sobre assuntos banais. Por mais que ela andasse. Sim, ela andava. Andava pouco, mas andava. Não se acostumara a andar de ônibus.
 Acenou uma vez, mas não atenderam-lhe o pedido. Caminhou, vagarosamente, rumo à parada. Sentia medo, calor.  Sentia um homem olhando pra sua bolsa. Parou. Pensou uma. Pensou duas. Recuou os passos. Pensou mais uma vez, e assim, continuou sua caminhada. Agora em passos mais rápidos. Era a primeira. Não! Era uma das primeiras da fila, mas ainda assim, subiu os degraus sendo empurrada pelos cotovelos de uma mulher que também estava sendo empurrada. Foi para a direita, não achou lugar. Foi para a esquerda, não achou lugar. Ela ficou em pé. Apoiou suas costas em uma das pilastras do ônibus lotado. Estava desconfortável. A bolsa pesava em seus ombros e os arames do caderno machucavam suas mãos. Uma senhora rezando o terço. Uma negra de olhos espertos.
De repente, um ato de caridade. Uma moça de bochechas grandes, lábios carnudos e cabelos crespos preso em um nó estendeu-lhe os braços. A viajante entendeu o recado e entregou o seu caderno, agradecidamente, à moça. A mulher insistiu mais, porém ela não deu a bolsa. Não queria abusar da bondade.
  Não sabia onde se encontrava, mas sabia o seu destino. Assim, ela deixou-se seguir.

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